Cícera Martins
Quem conhece a história de Schoenstatt, sabe que o padre José Kentenich, entre outras tantas provações que passou com sua obra, ficou 14 anos exilado em Milwalkee, EUA, após uma Visitação canônica feita ao Movimento em 1949. Com o crescimento da Obra, alguns princípios dogmáticos, pastorais e pedagógicos de Schoenstatt passaram a ser questionados, especialmente a posição central do padre Kentenich como Pai. A Igreja achou melhor afastá-lo de sua comunidade, como medida administrativa, para estudar essas questões.
Em 22 de outubro de 1951, ele partiu para o exílio, o qual viveu em perfeita obediência à Igreja, colocando toda a sua esperança no poder da Mãe Três vezes Admirável de Schoenstatt:
“Continuaremos, sem dúvida, a empregar todos os meios humanos. Em última análise, porém, só a Onipotência divina pode operar o milagre da libertação”. 1
Ele estava convicto de que “quem tem uma missão extraordinária, também precisa se preparar para provas extraordinárias. Omundo e a Igreja têm o direito de as exigir e impor. Não se devem indignar quanto aos meios usados, também não quando se trata de desonra, privação de direitos e de lar. Eles precisam da prova da autenticidade e do caráter divino dessa missão”. 2
Após os longos anos de exílio, no dia 13 de setembro de 1965, o padre Kentenich recebeu um telegrama, mandando-lhe ir imediatamente para Roma. Assim teve início o processo de sua libertação.
Ele chegou a Roma em 17 de setembro e ali ficou, durante algum tempo, aguardando a decisão da Igreja sobre sua situação: se seria libertado ou se teria que retornar aos Estados Unidos. “Estava certo de que estava vivendo uma hora de graças na qual a Mãe ia se glorificar.” 3
No dia 20 de outubro, o Santo Ofício revogou a decisão de fazê-lo voltar ao exílio e anunciou a suspensão de todas as acusações contra o Fundador, e o Papa Paulo VI confirmou essa determinação no dia 22 de outubro de 1965. Este dia passou a ser celebrado pela Família como o quarto marco da história de Schoenstatt: estar na vitoriosidade divina.
O padre Kentenich permaneceu em Roma até dezembro, quando, no dia 22, conseguiu uma audiência com o Santo Padre, e no dia 23 recebeu autorização para voltar à Alemanha. Chegou à Schoenstatt na noite do dia 24 de dezembro, e assim realizou-se novamente, como no tempo de Dachau, o Milagre da noite de Natal. Ele reassumiu plenamente sua tarefa como Fundador da Obra, à qual se dedicou incansavelmente pelos três anos seguintes, até sua morte.
Cheios de gratidão, a cada 22 de outubro, somos convidados a refletir:
“Qual foi a força que manteve a Família fiel no meio dessa luta titânica? A experiência do caráter sobrenatural de Schoenstatt vivida em torno do 20 de janeiro e dos anos de Dachau. Todos os que tinham vivido essa experiência estavam convencidos de que Schoenstatt era obra de Deus, de que nosso pai era também um homem de Deus e de que, por isso mesmo, esta luta era senão uma luta como tantas outras, que todos os grandes santos da igreja tinham suportado. A fé e a tranquilidade com que nosso pai suportava tudo em Milwalkee ajudava enormemente para que a Família continuasse lutando.” 4
Queremos guardar no coração e levar para a vida as palavras de nosso Pai por ocasião de seu regresso a Schoenstatt: “Minha querida Família de Schoenstatt, imagino que aguardam com expectativa as primeiras palavras que lhes penso dirigir depois de 14 anos (…) Eu poderia ficar com os senhores na terra, mas também poderia subir com os senhores às estrelas, subir até o céu (…) olhar para dentro do coração de Deus, procurar descobrir seus planos, aplicá-los à nossa própria vida, a fim de poder olhar com mais clareza para o futuro”. 5
Nessa perspectiva, também hoje ele nos convida: “Filho, filha, vais comigo? Nas lutas e provações dos novos tempos?”
Sim, Pai, vamos contigo! Para amar e servir a Igreja como tu o fizeste! E contigo rezamos ao Pai do céu e à Mãe Três Vezes Admirável:
“Podes enviar até os confins do mundo,
Os que hoje por ti se empenham,
Para completar teu Reino aqui na terra.
Maria, recebe esta oferenda
Em tuas mãos fiéis de Mãe,
Para que, até o fim de nossa vida,
Não cesse este hino de gratidão.
Amém” (RC 624s)
1 Carta ao padre Menningen apud Dorothea Schlickmann in José Kentenich, uma vida à beira do vulcão, p. 271.
2 Idem, p. 276.
3 Alessandri, Hernàn. Um Fundador, um Pai, uma missão, p. 232.