Maria Rita Fanelli Vianna
Liga das Mães de Schoenstatt/ Vila Mariana
A parte I da história do Santuário Tabor da Confiança Vitoriosa no Pai (Vila Mariana, São Paulo Capital) termina com a promessa de que a história continuaria a ser contada; então, vamos cumprir a promessa e continuar, pela parte II.
Porém, antes, como acontece nas séries que podem ser acompanhadas nos streamings, um breve resumo do capítulo anterior, parte I.
Ir. M. Emanuele e Ir. M. Doroteia, junto com outras Irmãs de Maria, vieram para São Paulo no início da década de 1960, trazendo um anseio profundo: difundir a Obra de Schoenstatt e construir aqui um Santuário Filial. Depois de residirem por uns tempos em uma casa na Rua Barão de Iguape, mudaram-se para onde até hoje está o Santuário e a Casa do Movimento, na Rua Dr. Diogo de Faria.
A pedra fundamental do primeiro Santuário em terras paulistas foi lançada no dia 31 de maio de 1967, com a presença do Cardeal D. Agnelo Rossi e a pequena Família que já existia.
Para aquele dia, pairava a esperança de que o Fundador, Pe. José Kentenich, pudesse comparecer – mas Deus tinha outros planos. A pedido de Ir. M. Doroteia e Ir. M. Isengard, que visitaram Schoenstatt, Pe. José Kentenich enviou uma carta, hoje reconhecida como testamento e bênção para toda Família de Schoenstatt do Brasil; foi a última mensagem que ele enviou para nosso país, antes de voltar para os braços de Deus. Essa mensagem integral é outra história que vale a pena ser contada – aguardem a parte III!
Continuando: após apenas três anos, no dia 8 de julho de 1970, dia da ordenação sacerdotal do Pe. José Kentenich, após muito empenho das Irmãs de Maria e da então pequena Família, o Santuário de Vila Mariana foi inaugurado, abençoado. Pela parte I da história você encontra mais detalhes.
Todo Santuário de Schoenstatt traz em si uma missão específica; as Irmãs de Maria adotaram como missão de Vila Mariana ser: Dádiva de gratidão pelo 20 de janeiro de 1942; e aqui é preciso explicar melhor.
Naqueles anos, a política nazista imperava na Alemanha, travando guerra contra vários países, tentando impor suas ideias mais que socialistas. Pe. José Kentenich via nessas ideias o grande perigo de afastar o ser humano de Deus, criando o que ele chamou de cultura do mecanicismo; ou seja, criar uma sociedade afastada de Deus, onde todos formariam uma ‘massa’, sem a liberdade de pensar por si mesmo.
A posição antinazista do Pe. José Kentenich logo chegou aos altos escalões; Pe. Kentenich foi considerado ‘perigoso’, ‘revolucionário’, porque se opunha fortemente contra todas propostas da política alemã. Tinha início a perseguição ao Fundador. Inclusive, o Seminário Maior dos Padres Pallottinos passou a ser utilizado como escola para líderes nazistas, mas o Santuário Original continuava aos cuidados das Irmãs de Maria.
No dia 31 de maio de 1939, ano em que irrompeu a Segunda Guerra Mundial, um grupo das Irmãs de Maria formou “uma corrente viva em torno do Santuário”, intercedendo para que os poderes do Mal, do nazismo não destruíssem Schoenstatt nem o Santuário.
Em setembro de 1941, Pe. José Kentenich foi procurado pela Gestapo para ‘investigação’; porém, permitiram que ele terminasse o retiro que estava pregando para sacerdotes, em Schoenstatt. Obedecendo à ordem que tinha sido dada, no dia 20 de setembro, Pe. Kentenich apresentou-se para os militares na prisão de Coblença, onde ficou detido, até o dia 18 de outubro, em um “bunker”, a masmorra do cárcere.
Bem podemos imaginar: o bunker era a caixa-forte de banco, medindo três metros de comprimento e mais ou menos um metro de largura; uma pessoa não conseguia nem ficar em pé; também o Fundador. Ali, Pe. Kentenich passava os dias e as noites rezando, cantando; quando foi libertado, disse às Irmãs de Maria para decorarem as músicas religiosas, porque se arrependia de não se lembrar corretamente das letras.
Quanto à sua decisão de atender à ordem da Gestapo, ele assim explicou: “O mais precioso que o homem possui é a liberdade. Com amor sincero e ardente, ofereço essa liberdade para que o bom Deus conceda à Família, por todos os tempos, o espírito da liberdade dos filhos de Deus que anseio com tanto ardor. Antes de iniciar sua Paixão, Jesus rezou: ‘Ninguém me tira a vida… eu a dou porque quero’. Eu também faço assim: Ninguém me tira a liberdade. Eu a entrego livremente… entrego-a porque Deus assim o deseja… E meu alimento, minha tarefa predileta é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua Obra”. (cf. Novena ‘Livre em Algemas’, pág. 5).
Ali, no bunker, em meio aos gritos de desespero de outros prisioneiros, celebrou diariamente a Santa Missa, graças ao favor de um carcereiro que lhe entregava hóstias enviadas pela Família de Schoenstatt, usando o vidro do seu relógio como patena e um pequeno frasco como cálice. Só tinha conseguido levar consigo um crucifixo, seu terço e uma pequena Imagem da MTA.
Foram quatro semanas na escuridão desse isolamento; o Fundador aproveitou-as para fazer um retiro, aprofundando sua vinculação a Cristo e à Mãe de Deus, em diálogo contínuo com Deus. Estava interiormente disposto a aceitar o sofrimento e a cruz, a entrelaçar sua vontade com a vontade do Pai, plenamente convencido de que a Mãe Três Vezes Admirável tinha uma tarefa especial para si, para sua autoeducação.
Dentro dele, ardia cada vez mais o amor a Deus Trino e à Virgem Maria, deixando-se orientar pelos sinais que a Divina Providência lhe enviava, até alcançar o que tanto tinha almejado: a liberdade interior, que o capacitou a suportar tudo, inclusive as pressões psicológicas da polícia alemã. Assim afirmou: “Como homem livre, percorres livremente o teu caminho e não aceitas nada de indigno”.
Finalmente, tendo sido julgado ‘culpado’, no dia 11 de março de 1942, Pe. José Kentenich é enviado ao campo de concentração de Dachau. Ele poderia ter se valido de recurso, um atestado médico comprovando sua fragilidade pulmonar e, assim, ser considerado ‘inapto’ para ir ao campo de concentração; mas ele não quis, deixando de aceitar os insistentes pedidos da Família de Schoenstatt.
Em Dachau, junto com todos os prisioneiros, viveu o que ele próprio chamou de ‘inferno de Dachau’; mas também ali, em meio a todo sofrimento, tanta vida brotou para a Obra de Schoenstatt: A Obra de Famílias, o livro de orações Rumo ao Céu, sacerdote é ordenado, leigos – e até guardas e soldados do campo de concentração são convertidos pelas suas ‘palestras’ dadas em segredo, pelo seu testemunho de fé, de entrega aos planos de Deus. Fora dos muros de Dachau, Santuários Filiais surgiram e a Família de Schoenstatt cresceu em número e profundidade, em união ao Fundador.
Pe. José Kentenich foi libertado de Dachau no dia 6 de abril de 1945, quando a guerra terminou. Então, reconheceu que a Obra, a sua Obra, a Obra de Schoenstatt estava conforme a vontade da Divina Providência, não era apenas uma ‘ideia’ de sua cabeça, de seu capricho. Iniciou suas viagens para o mundo, inclusive para o Brasil, divulgando a devoção à Mãe Três Vezes Admirável, a confiança em Deus Trino, levando o carro de triunfos de Cristo e de Maria onde quer que fosse.
Enfim, chegamos ao ponto central da parte II do Santuário Tabor da Confiança Vitoriosa no Pai; inspiradas na atitude do Fundador, as Irmãs de Maria da época adotaram como missão: Dádiva de Gratidão pelo 20 de janeiro de 1942 porque, a partir dessa data, que é considerada Segundo Marco da História de Schoenstatt, todos os filhos e filhas espirituais do Pe. José Kentenich aprenderam como ter atitudes concretas, adotando sua famosa frase: Precisamos manter o ouvido no Coração de Deus e a mão no pulso do tempo. Continuam a aprender a viver a confiança, a esperança no Amor infinito e misericordioso de Deus Uno e Trino e na proteção da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt.
A missão do ’20 de janeiro’ continua! Exige de cada schoentattiano um “salto mortal atrás de outro”. Por isso, anos depois, em 2005, antes da festa pelos 35 anos do Santuário, a Família de Schoenstatt de Vila Mariana reuniu-se em congresso, que terminou no Dia de Pentecostes daquele ano. Durante o Congresso, que durou vários encontros, com forte corrente de oração, com muitas ofertas ao Capital de Graças, muito estudo por parte das 70 pessoas que dele participaram, chegou-se à conclusão que seria melhor ‘redefinir’ a missão para que todos pudessem entendê-la plenamente e vivê-la ainda mais plenamente.
Concluiu-se que CONFIANÇA foi a graça mais presente no coração do Pe. José Kentenich durante seu tempo no bunker e no campo de concentração, de onde finalmente saiu ileso e livre.
Assim, a ‘nova’ missão do Santuário de Vila Mariana tornou-se como hoje a conhecemos e vivemos:
SANTUÁRIO TABOR DA CONFIANÇA VITORIOSA NO PAI
A rica história do Santuário de Vila Mariana está plena de bênçãos, graças, alegrias. Quantas pessoas o visitam, o têm como uma pérola oculta no coração da grande São Paulo! Quantos milagres de transformação pessoal, até de curas físicas são alcançados ali, pela intercessão da Mãe de Deus!
É preciso continuar a contar essa história. Então, até a parte III da história do Santuário Tabor da Confiança Vitoriosa no Pai!